22 junho 2010

"A gente não faz amigos, reconhece-os."
Ótimo estar com vocês em Ouro Preto!






12 junho 2010

Guimarães Rosa para jovens urbanos

“As pessoas morrem de fato quando aqueles que as amam as esquecem.”

(Rubem Fonseca, O doente Molière)


Bom dia crianças, como estão? Ótimo. Hoje nossa aula é sobre o escritor João Guimarães Rosa. Escritor mineiro de Cordisburgo, Guimarães Rosa soube como ninguém escrever ficção. Dono de um estilo único, com marcas regionais, o autor mostrou ao mundo o sertão mineiro com a maestria de um gênio.


Anotem a primeira tarefa de vocês. Buscar dados sobre a vida deste escritor; data de nascimento, alguma curiosidade sobre sua infância, com quantos anos começou a aprender a primeira língua estrangeira, a influência da família nos estudos. Anotaram?


Vamos lá, crianças. Em nossa aula de hoje nós discutiremos sobre algumas frases deste criador de palavras. Prestem bastante atenção nesta frase para então conversarmos sobre: “Afirmo ao senhor, do que vivi: o mais difícil não é ser bom e proceder honesto; dificultoso, mesmo, é um saber definido o que quer e ter o poder de ir até no rabo da palavra.”


Vamos chegar ao todo com calma, passando pelas partes. “Afirmo ao senhor, do que vivi”. Aqui é uma frase para ser entendida como verdade, como a opinião do narrador. A palavra “afirmo” está ali para esta função, o leitor acreditar que o que virá é a verdade. “Do que vivi”, é uma forma de mostrar ao interlocutor de onde vem sua visão de mundo; é da vida, lição aprendida no dia a dia; tem coisas que só a vida pode nos ensinar, crianças. Então esta primeira frase quer que você acredite piamente no que ele irá dizer.


“O mais difícil não é ser bom e proceder honesto”. Aqui ele nos diz que ser bom e proceder honesto não é o mais difícil na vida. Vamos ver o que é ser bom e proceder honesto, crianças. A bondade é uma virtude do Homem; você está andando na rua no sol quente e vê uma senhora com dificuldade de carregar uma sacola cheia, você chega a ela e oferece para carregar a sacola. Isso é uma bondade; fazer favores não querendo algo em troca. Agora, “proceder honesto” é outra situação. Você vai a uma loja comprar lanche, recebe troco a mais. O que faz? Fala para a pessoa que deu troco a mais ou coloca no bolso e vai embora calado? Claro que se você é honesto vai devolver a quantia à pessoa e ficar com o troco certo.


Então vejamos até onde já fomos: a verdade da vida deste sujeito é que fazer um favor sem querer nada em troca, e ser honesto, não é o mais difícil na vida. Lembre-se que este é apenas um exemplo para cada situação; existem inúmeros.


O narrador continua: “dificultoso, mesmo, é um saber definido o que quer e ter o poder de ir até no rabo da palavra.”


Esta primeira palavra, “dificultoso”, mostra a vocês um regionalismo, como nós chamamos. Vejam que “dificultoso” é muito mais do que “mais difícil”. E prestem atenção que a palavra “mesmo” está entre vírgulas, e isso dá uma ênfase ainda maior à palavra dificultoso. E assim, “dificultoso” é ainda mais difícil do que ‘mais difícil’. Estão conseguindo acompanhar, crianças?


Pois bem, continuando teremos: “é um saber definido o que quer”. Chegará um momento que terão que tomar certas decisões para o futuro de cada um, como escolher uma profissão, um marido ou esposa. Então, “um saber definido” seria isso, escolher a profissão certa, a que assemelha às suas vontades, suas aptidões, seus sonhos; e a pessoa certa é aquela que combina com você, com seu jeito de ser, de ver o mundo, além, é claro, do amor.


“E ter o poder de ir até no rabo da palavra”. Esta é uma oração maravilhosa, crianças. Aqui o narrador nos diz que depois de tudo o que falamos aqui você precisa ter o “poder” de ir fundo em seus sonhos, suas vontades, seus desejos; você sonha ser médico, então estude até conseguir; quer ser escritor, então leia todos os clássicos e escreva todos os dias. “Até no rabo da palavra” é isso, é a dedicação, é acreditar que você pode conseguir. Ir fundo, com vontade, dedicação, disciplina, seriedade.


Compreenderam esta primeira frase de hoje? Fazer um simples favor sem querer nada em troca, devolver o troco errado ao caixa da lanchonete, isso não é tão difícil assim. Ou é, crianças? Então chegará um dia em que vocês escolherão o futuro, decidirão suas profissões, e aí sim será uma dificuldade enorme, conforme o narrador. De acordo com nossos exemplos da aula de hoje.


Segunda tarefa do dia: buscar informações sobre a vida de Guimarães Rosa: sua formação acadêmica; as profissões; com quantos anos publicou sua primeira obra.


Nós temos tempo para mais uma frase pequena, porém com grandes significados. Esta é uma característica deste grande escritor: não há uma única frase solta em seus livros, todas (todas!) estão de propósito nos seus devidos lugares e com seus significados marcantes.


“Moço!: Deus é paciência. O contrário é o diabo.” Vamos lá, crianças?


A frase já começa com uma indicação de regionalismo, só que desta vez não quer dizer apenas do sertão mineiro, como também toda a região do estado de Minas Gerais. Esta expressão é muito usada no estado inteiro. Ali tem um ponto de exclamação e logo em seguida dois pontos. Por quê? Para indicar que está falando diretamente a uma pessoa e irá dizer algo para ela escutar com atenção.


Quando fala “Deus é paciência” quer indicar a qualidade de ser paciente, atento ao que está em volta, sem julgar ou ter qualquer outro sentimento sem pensar com calma, sem refletir sobre o que está vendo. Este não é o Deus da igreja, Aquele que vamos louvar no domingo de manhã. É o Deus que nos faz olhar para as crianças com fome nas ruas e não ter um ataque de desgosto, desespero em relação ao próximo, descrença com a classe política.


Estão conseguindo acompanhar, crianças?


Então vamos à última frase: “O contrário, é o diabo.” Nós vimos o que é Deus, e o contrário pode ser atribuído ao diabo; certo? Você está andando de bicicleta na rua e vem um carro correndo, e precisa desviar de você, ele passa veloz e buzina e xinga. Essa pessoa não viu que você está andando na rua porque não tem ciclovia na cidade onde mora, não viu que para ele ter que fazer isso está acima da velocidade permitida. Agir desta forma é o contrário de agir com paciência. Não quero dizer que esta pessoa está com o diabo encarnado, só quero mostrar a oposição de ideias existente numa pequena frase com tão grande conteúdo.


Conseguiram acompanhar, crianças? Gostaram da aula? Vocês têm mais duas tarefinhas para a próxima semana. A primeira é ilustrar com um exemplo o que é ter paciência; e a outra é o contrário, de acordo com essa ideia da aula. Vocês podem falar sobre o trânsito, sobre a escola, enfim, sobre o que quiserem.


A outra é procurar um livro de contos e ler um conto deste escritor. Leia um conto e escreva em poucas linhas o que entendeu do conto, se gostou, de que gostou no conto; escreva sobre o conto com total liberdade.


Crianças, obrigada pela aula. Nos vemos na semana que vem.

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PS: Este texto por algum motivo misterioso desapareceu do Anais. Agora está aqui para todos!

07 junho 2010

E vamos nós!

Amigos que Sobramos!
Cá estou, em plena segunda-feira, pós feriadão, às 08h, a trabalhar...

Mas faço pausas seguidas no trabalho, pra lembrar do fim de semana em Ouro Preto,
acalentar com a memória os bons momentos,
risadas,
versos e sonhos compartilhados.

Valeu a pena correr!

Correr pra enviar o poema, correr pra pegar o ônibus, correr para o Salão Ametista!

E que esse blog seja feito na corrida,
a corrida pra manter viva
a chama tênue da amizade nascente!

Deixo o abraço de Formiga para os Amigos Que Sobramos!

05 junho 2010

Vestido Preto Ouro Vestido

Segundos passaram
Orgulhos multiplicaram
Braços comunicaram
Risos espalharam

Amigos vestidos de Preto
Meninos feitos de ouro
Olhos cheios de afeto
Sonhos, palavras e coro

Seja bem-vindo

“Mas menino, quantas vezes terei que falar para você não discutir com seu mestre?“
“Não estou discutindo.”

“É claro que está! E está me tirando a razão perante a classe.”

“Mas professora.”

“Mas nada! Já não é a primeira vez que você faz isso.”

“Faz o quê?”

“Isso.”

“Isso o quê?”

“Cala a boca e faça a prova! Você sabe muito bem que se eu quiser você estuda novamente esta matéria.”

“Ah! Quer dizer que eu reprovo é por matéria?”

“É, sim senhor.”

“E se eu não quiser estudar alguma matéria?”

“Quem foi que disse que você pode escolher algo aqui?”

“Ué... falaram que aqui se discutia.”

“Falaram!” – interrompe a professora.


Por alguns minutos a sala permanece em silêncio.


“Eu vou ao banheiro e já volto.”

“Mas professora, você deixará a turma sozinha?, é uma prova.”

“Porra garoto! Você só fala besteira!”


O garoto explode.


“Eu é que só falo besteira? Quem foi que falou que o Brasil foi descoberto por acaso? Quem é que nos obriga a decorar frases de livros? Nem livro brasileiro é!”

“Muitos são.” - interrompe a professora.

“Muitos... grande coisa.“

“Acalme-se, caso contrário não conseguirá responder às questões.”

“Eu nem quero responder.”

“Se você não responder terei que reprová-lo.”

“Puta que pariu! Vai ser isso a vida inteira?”

”Isso o quê?”

“Você ainda pergunta, professora? Este autoritarismo.”

“Moleque malcriado. Seus pais não o educaram?”

“Sim professora, mas eles sempre tiveram que trabalhar durante o dia e às vezes à noite. Por isso eu sempre passei o dia inteiro na escola.”


E, antes mesmo da professora sentar-se, foi questionada pelo garoto:


“Professora, você não vai ao banheiro?”

“Me dá o seu teste! Você está reprovado! Ano que vem nos encontramos nesta sala.”

“Mas professora, pra que você me quer aqui como aluno de novo?”

“Para servir de exemplo aos outros. Anda logo, me dá o seu teste.“

O aluno entrega o teste e sai de sala pensando como será o próximo ano.


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Foi deste texto que tudo começou.